futebol se rende à urgência de combater o racismo

O futebol não será o mais importante do amistoso desta terça-feira, 26, entre Brasil e Espanha. Tampouco deverá ficar acima de tudo seja lá qual for o resultado partida. As duas seleções se enfrentam a partir das17h30 (de Brasília), no Santiago Bernabéu, em Madri, contra o racismo e sob o lema ‘uma só pele, uma só identidade’.

As duas confederações costuraram o amistoso nesta data Fifa como uma forma de resposta aos sucessivos episódios de racismo pelo qual passa Vinícius Júnior. Há anos, o atacante da seleção brasileira e do Real Madrid é alvo de cantos e ações preconceituosas de torcedores em diferentes gramados na Espanha.

Nas redes sociais, a RFEF (a federação espanhola de futebol) divulgou um vídeo promocional da partida, com imagens de jogadores das duas seleções em vitórias importantes. Ao final, a mensagem de “uma denúncia contra esse flagelo que é o racismo”.

No caso mais recente de racismo, no início do mês, Vini Jr. não precisou nem estar em campo para que torcedores do Atlético de Madri o chamassem de “chimpanzé”, na partida contra a Inter de Milão, pelas oitavas de final da Champions League. Em janeiro de 2023, um boneco caracterizado com a camisa número 20 apareceu pendurado pelo pescoço em uma ponte, além de ouvir o coro de “macaco”, em Valência, em maio, também do ano passado, entre outros casos.

Vini Jr. usou a entrevista oficial da seleção brasileira para fazer um desabafo emotivo contra o que vem sofrendo. O atacante chegou a dizer que vem perdendo a vontade de jogar, mas não deixará de lutar para não dar espaço aos racistas. “Se sair daqui, estarei dando aos racistas tudo o que eles realmente querem.”

“Tenho certeza que a Espanha não é racista, mas tem muitos racistas aqui e, muitos deles, estão nos estádios. Isso tem que mudar por que essa gente talvez não saiba realmente o que é racismo. Isso é complicado por que eu, com 23 anos, tenho que ensinar muitos espanhóis”, disse Vini Jr., que chegou a ser aplaudido por todos que estavam presentes no local.

O comentário encontra respaldo entre os próprios habitantes do país Ibérico. O atacante Nico Williams, de origem ganesa, mas que atua e foi convocado pela seleção espanhola, deu uma entrevista ao jornal As, na qual exemplifica o ódio ao jogador brasileiro. Ele também lembrou os próprios casos de racismo que sofreu.

“Muitas vezes, o insultam por que é um grande jogador e por que é negro. Isso não está certo e precisa acabar. No futebol, você vai para desfrutar da partida, torcer e não para insultar”, resumiu o jogador, irmão de Iñaki Williams, que também nasceu e cresceu em solo espanhol, mas optou por defender Gana.

Nas redes sociais, Nico Williams e o jovem Lamine Yamal, destaque do Barcelona de ascendência marroquina, têm sido alvos constantes de preconceito. Uma postagem com a foto da dupla e a mensagem “uma seleção que não representa os espanhóis” tem mais de 6.000 curtidas e segue no ar apesar das inúmeras denúncias à plataforma X (antigo Twitter).

Lamine Yamal e Nico Williams são alvos de racismo nas redes sociais - Twitter
Lamine Yamal e Nico Williams são alvos de racismo nas redes sociais – Twitter

Por que jogadores não saem de campo?

Diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho acredita que a ideia do amistoso, por si só, já é uma importante forma de posicionamento contra o racismo. Um próximo passo seria encerrar a partida em caso de novo episódio de racismo. Só aí, seria dado o recado de que o espetáculo não é tudo.

“Não existe algo que possa ser feito que vai acabar com esse racismo estrutural, mas é preciso mostrar que as instituições estão do lado dele. A gente é temeroso por que o Vini está no centro das atenções”, disse Carvalho. “O jogo precisa ser encerrado em caso de racismo. Não é por cinco minutos e voltar. A mensagem para a sociedade é que o racismo não será tolerado. O futebol não está acima de qualquer coisa.”

Ainda na visão do diretor do projeto que contabiliza e divulga informações para combater o racismo no futebol, os jogadores não saem de campo por pressão de dirigentes e patrocinadores. O fim da inversão da lógica entre culpado e vítima seria uma drástica punição aos envolvidos.

Nico Williams, seleção espanhola, Divulgação/SEFutbolNico Williams, seleção espanhola, Divulgação/SEFutbol
Nico Williams, de origem ganesa e que atua pela seleção espanhola, lamentou casos de racismo – Divulgação/SEFutbol

O técnico Dorival Júnior foi outro que cobrou uma verdadeira punição. No último caso de racismo contra o jogador brasileiro, LaLiga cobrou atitudes da Uefa, que disse que não poderia fazer nada.

“É uma covardia o que acontece. Desculpem, mas não temos uma outra definição para uma situação como essa. Aliás, fato esse que diariamente também no nosso país e que precisamos de um esforço coletivo de todos, que o Ministério Público atende de uma forma mais presente e direta para que possa inibir e coibir toda e qualquer agressão nesse sentido”, disse o treinador.

Por outro lado, mais cedo, o lateral-direito Dani Carvajal, da seleção espanhola e companheiro de Vini Jr. no Real Madrid, disse que não acredita que há racismo na Espanha.

“Venho de um bairro humilde de Leganés, nunca tive nenhum problema. Tenho amigos de outra cor de pele e nunca tive problema. Há também quem entre no estádio para desabafar e que não devem mais entrar nos estádios”, disse o jogador, que também revelou não falar ‘desses assuntos complicados’ com o companheiro nos vestiários.



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