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“Senna era um ser humano como qualquer um de nós“, diz biógrafo

Há 30 anos, Ayrton Senna da Silva foi declarado morto no Hospital Maggiore de Bolonha, na Itália, após bater a Williams que pilotava durante a prova do Grande Prêmio de San Marino, no Circuito de Ímola. Além do Rei de Mônaco, o Rei da Chuva, o Magic Senna, ou qualquer outro apelido que o brasileiro tenha ganhado durante a breve carreira no automobilismo, morria ali, aos 34 anos, um homem e nascia uma lenda.

A morte do piloto foi considerada como tragédia nacional, tendo o governo vigente declarado três dias de luto oficial, além de conceder honras de chefe de Estado ao atleta na cerimônia de despedida. Quase carregado por milhões brasileiros que sonhavam recebê-lo em outras circunstâncias, o caixão que carregava o corpo de Senna foi sepultado no jazigo 11, quadra 15, setor 7, do Cemitério do Morumbi, em São Paulo, dias depois.

Remontando a história dele, do homem por trás do piloto que ganhou o título de patrono do esporte brasileiro, o jornalista mineiro Ernesto Rodrigues revisitou os 34 anos vividos por Ayrton Senna. Os passos já haviam sido traçados no primeiro lançamento de “Ayrton: o herói revelado”, em 2004. Agora, a obra ganhou uma edição, atualizada e contextualizada, relatando também o legado deixado por Senna através de cerca de 240 entrevistas realizadas em sete países.

“Não é um livro que o santifica. Quer dizer, tem muita gente que resolveu dar até um aspecto quase que religioso, mitológico, na morte do Ayrton. Eu não gosto desse tipo de relacionamento”, esclareceu o biógrafo à Itatiaia. “Não tem nada que eu tenha deixado de contar por medo de alguém ou por imposição de quem quer que seja. Está tudo lá e são histórias que mostram todos os aspectos da vida do Ayrton. Não só como o herói, mas como um ser humano como qualquer um de nós”, destacou.

“Ayrton: o herói revelado” é, segundo Rodrigues, uma “biografia clássica” que vai além da trajetória de Senna como atleta. “Uma biografia, seja quem for o biografado, […] não importa o personagem. O que as pessoas querem quando leem uma biografia é, no fundo, entrar na intimidade do biografado, na intimidade humana dele”, disse o jornalista. “Nesse sentido, o livro não é um livro esportivo, é uma biografia clássica que nos permite, modéstia à parte, ser íntimos de Ayrton desde a infância dele até o dia em que ele morreu nas circunstâncias trágicas que todos conhecemos”, descreveu o mineiro.

Relato de Lewis Hamilton

A nova versão traz relatos como o de Lewis Hamilton, heptacampeão de Fórmula 1 e futuro piloto da Ferrari, realizando um sonho que um dia foi do ídolo. À época com 10 anos de idade, o inglês já se inspirava no brasileiro enquanto despontava no kart.

“Eu me lembro como se fosse ontem. Meu pai me disse que Ayrton tinha morrido. Fui para um muro que ficava junto à linha férrea. Não queria que meu pai me visse chorando. Foi uma coisa muito forte. E eu era ainda criança”, relatou ao jornalista mineiro em um excerto do livro.

O próprio escritor lembra onde estava quando soube da morte de Senna. Fã de automobilismo, ele era um dos editores do Jornal Nacional, da TV Globo, e acabou sendo acionado para produzir o Fantástico naquele domingo.

“Como jornalista, já tenho mais de 40 anos de profissão e eu nunca vi uma redação se comportar daquela maneira. Nós geralmente somos mais frios. Lidamos com coisas muito feias, muito tristes, então a gente desenvolve uma espécie de couraça para enfrentar tudo isso”, acrescentou.

“Quando acabou o Fantástico e passou aquela música da vitória [Tema da Vitória, de Eduardo Souto Neto]. Depois de uma edição praticamente toda dedicada ao Ayrton, eu vi uma redação inteira chorar. Não importa o cargo. Podia ser diretor, editor, operador da área técnica… foi uma coisa muito emocionante mesmo”, contou o jornalista sobre a experiência que também é descrita no livro sobre Senna.

Após 30 anos, por que ainda falamos de Senna?

O ano de 2024 marca os 30 anos desde o acidente que matou Ayrton Senna. Atualmente, muito do legado do piloto que em breve será revisitado por uma minissérie da Netflix é apresentado a uma geração que sequer vivenciou a experiência de assistir às façanhas de Senna nos tradicionais domingos de Fórmula 1. Mesmo sendo em definitivo um ser humano, como qualquer um de nós, a história do brasileiro só parece crescer mais e mais com o passar dos anos.

“O Ayrton pertence ao imaginário afetivo e à memória afetiva de pelo menos umas quatro gerações. Por isso que eu acho que, até hoje, as pessoas se interessam por ele e foi por isso inclusive que eu achei que valia a pena atualizar o livro”, revelou à Itatiaia. “Sinto que ainda é muito viva essa, esse interesse e essa relação afetuosa que já não tem mais nada a ver com Fórmula 1, tem mais a ver com o que o Ayrton significou pros brasileiros”, apontou Rodrigues.

O livro “Ayrton: o herói revelado” busca, conforme os relatos do autor, acalentar e confortar um público que, há 30 anos, se sente órfão do talento de Senna. Publicada pela editora Tordesilhas, a nova edição da obra está disponível para venda.

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