“Qual o uniforme favorito do seu clube de coração?”. Essa pergunta, feita para vários torcedores, rende diversas respostas. Isso porque, quando se trata de camisas de futebol, há muitos fatores envolvidos: superstições, histórias pessoais, períodos vitoriosos do clube, ou até mesmo o simples fato do modelo contar com um design diferenciado.
A memória afetiva é uma das principais explicações para esse fenômeno. Cada uniforme representa algo na vida das pessoas. Pode ser um bom momento do time, a primeira camisa que vestiu ou um presente de uma pessoa especial. Da mesma forma, experiências negativas também podem marcar um produto. Um modelo que remete a uma fase difícil do clube, ou então que fica marcado por uma sequência de derrotas, acaba sendo atrelado a um “azar” dentro de campo.
Temos um grande exemplo disso com a maior camisa do futebol mundial, a da seleção brasileira. Muita gente não se lembra, mas até 1954 o uniforme da equipe nacional era branco e azul. A mudança para o amarelo surgiu após a derrota para o Uruguai em 1950, no famoso Maracanazo. O revés fez com que os torcedores começassem a questionar se a cor de fato era a melhor opção para o time. Na Copa do Mundo seguinte foi adotado o uniforme canarinho que, junto com as conquistas, entrou para a história do esporte, ofuscando o seu antecessor.
Isso nos mostra que a discussão sobre a representatividade e do simbolismo em torno das camisas do futebol é antiga. O esporte é passional e, qualquer elemento que remeta o torcedor a emoções, sejam positivas ou não, será lembrado. Por isso, ao meu ver, um uniforme precisa realçar a sensação de pertencimento do torcedor para se tornar marcante.
Quem veste o manto precisa se sentir representado, tanto dentro quanto fora de campo. Esse é o grande desafio das empresas que confeccionam esses produtos: gerar um conceito que signifique algo para os fãs, despertar a memória afetiva dos torcedores, contextualizar essas peças e, por consequência, rentabilizar o projeto. Há camisas que remetem a gols, títulos, jogos e até mesmo traços dos estádios em seu design, por exemplo. Se esses requisitos não forem cumpridos, o modelo pode contar com o maior número de qualidades possíveis, e ainda assim não ficará marcado na memória da torcida.
O futebol é paixão. Cada clube representa um símbolo, que mexe com o emocional do torcedor. Vestir a mesma camisa que os jogadores utilizam dentro de campo gera uma sensação única de estar manifestando o seu amor e orgulho por determinada instituição, faz com que o fã se sinta apto para enfrentar o que vier junto com a sua equipe. Sem essa característica, um manto não sobrevive.
* Fernando Kleimmann é sócio-diretor da Volt Sport
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