Como a Olimpíada de Paris pode se tornar um superpropagador da dengue

Nota do editor: As opiniões expressas neste comentário são exclusivamente do autor. A CNN está apresentando o trabalho do The Conversation, uma colaboração entre jornalistas e acadêmicos para fornecer análises e comentários de notícias. O conteúdo é produzido exclusivamente pela The Conversation.

Em setembro de 2023, várias pessoas contraíram dengue em Paris, na França. A presença dessa doença transmitida por mosquitos foi notável por dois motivos.

Foi o surto mais ao norte já registrado e nenhuma das pessoas havia viajado recentemente. Isso demonstrou que agora é possível que a dengue seja transmitida localmente no norte da Europa. Esses fatos são importantes em 2024 por causa da Olimpíada.

A França aguarda com expectativa a chegada de mais de 10 milhões de atletas, espectadores, dirigentes e turistas à cidade para o evento. O governo francês sabe que existe risco de dengue. Em Paris, centenas de locais são verificados regularmente em busca da presença de mosquitos transmissores da dengue. Isso será suficiente?

O conceito de superpropagador na epidemiologia de infecções não é novo. Em essência, significa que uma pequena fração da população, talvez apenas uma pessoa, é responsável pela maioria dos casos. Uma famosa superpropagadora histórica foi a “Maria tifóide”. Mary Mallon era uma portadora assintomática de febre tifóide que pode ter infectado mais de 100 pessoas.

Um estudo publicado na revista Nature sugere que cerca de 15% das pessoas foram responsáveis por 85% dos casos de Covid na província de Hunan, na China.

Em termos de dengue, uma análise do Peru sobre a superpropagação sugere que 8% dos espaços ocupados por humanos são responsáveis por mais da metade dos casos. (Deve-se notar que a dengue não pode ser contraída diretamente de outro ser humano, apenas pela picada de um mosquito transmissor da dengue.)

Esta não é a primeira vez que as Olimpíadas são identificadas como um fator de risco para epidemias virais. Os Jogos de 2016, no Brasil, quase foram adiados por causa dos temores sobre o Zika — outro vírus transmitido pelo mosquito Aedes. No fim, todas as preocupações foram eliminadas, porque não houve casos relatados.

O medo de que o Covid se espalhasse pela Olimpíada de Tóquio trouxe medidas drásticas para limitar a transmissão. Naquele evento, ocorreram poucas infecções dentro da bolha olímpica, mas houve um aumento de casos na população em geral. Então, o que há de diferente em Paris?

O Aedes se espalhou consideravelmente mais do que em 2016, e o número de casos de dengue em todo o mundo aumentou dramaticamente no mesmo período. Em 2016, foram notificados 5,2 milhões de casos em todo o mundo. Em meados de 2024, já ocorreram 7,6 milhões de casos.

Visitantes de mais de 200 países são esperados na França para a Olimpíada. Muitos desses países já estão enfrentando dengue este ano. Para que os Jogos Olímpicos de Paris se tornem um evento de grande difusão, vários fatores devem se sobrepor. É preciso haver mosquitos suficientes, pessoas suscetíveis e já infectadas suficientes, tempo suficiente e picadas de mosquito suficientes.

Perfeitamente adaptado

O mosquito-tigre está perfeitamente adaptado ao ambiente urbano de Paris. Ele precisa apenas de uma pequena quantidade de água em um pequeno recipiente para pôr seus ovos. Alimenta-se preferencialmente de humanos, ao amanhecer e ao anoitecer. Os próprios ovos podem resistir a condições de seca durante meses. Uma vez molhados novamente, os ovos eclodirão.

O que torna essa situação potencialmente perigosa para Paris é que alguns desses mosquitos podem já ter dengue dentro deles, transmitida pela mãe. Isso poderia reduzir significativamente o número de picadas necessárias para iniciar uma epidemia.

Dentro do período da Olimpíada, um atleta ou espectador infectado pode ser picado uma vez por um mosquito e causar uma epidemia em cerca de uma semana. Cada mosquito fêmea pode depositar até 200 ovos por vez. A maioria dos casos de dengue é assintomática.

As pessoas infectadas antes ou durante a Olimpíada podem não ter ideia de que são portadoras do vírus. Eles podem levar o vírus para casa e semear uma epidemia lá sem nunca saberem disso. Quer as pessoas fiquem doentes ou não, elas carregam o vírus e podem transmitir a infecção se forem picadas por um mosquito Aedes.

No Carnaval do Rio deste ano, um surto de dengue poucos dias antes do evento levou ao acionamento de uma emergência de saúde pública, mas o evento não foi cancelado. Não haverá emergência de saúde pública em Paris porque o evento em si é o fator de risco. Qualquer pessoa que viva, trabalhe, visite, compita, faça voluntariado ou mesmo apenas passe por Paris durante o período olímpico fará parte de uma enorme experiência natural — independentemente de saber disso ou não.

Este artigo foi republicado do The Conversation. Leia o artigo original.

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