A Eurocopa 2024 começa nesta sexta-feira, 14, com a partida entre Alemanha e Escócia marcando o início da competição que envolve 24 seleção do continente europeu. Além das estrelas alemãs e das relevantes peças escocesas, a partida envolve uma curiosidade: sete jogadores não nasceram nos países que defenderão no torneio.
A estatística – que será facilmente superada em outras partidas da Euro -, se dá pela presença de um naturalizado na Alemanha e seis na Escócia. Algo cada vez mais comum no futebol de seleções, tendo em vista que 80 atletas defenderão times de países nos quais não nasceram.
Para a partida, do lado dos alemães, o naturalizado é Waldemar Anton, defensor nascido no Uzbequistão. Os escoceses têm o goleiro Angus Gunn, os defensores Kieran Tierney e Liam Cooper, o meio-campista Scott McTominay e os atacantes Ché Adams e Tommy Conway.
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Os casos por trás da estreia envolvem explicações mais simples sobre o caso. Anton é um Usbeque de ascendência russo-germânica, que se mudou para a Alemanha ainda aos dois anos de idade e chegou a receber sondagens da seleção de seu país de nascimento, mas optou por defender o time de onde foi criado.
Já na situação dos seis naturalizados que hoje atuam pela Escócia, a explicação tem base no Reino Unido, já que cinco deles nasceram na Inglaterra. Kieran Tierney é a única exceção, já que é natural da Ilha de Man, uma pequena dependência autônoma da coroa britânica. O lateral se mudou para a Escócia antes de completar um ano, mas ainda assim considerou defender a seleção de Ellan Vannin, o time que representa a ilha em que nasceu na Copa do Mundo da ConIFA, uma confederação de membros que vão de povos originários a estados não-oficiais.
Camavinga e a relação com três países
Vencedor da Champions League pelo Real Madrid com atuação categórica na final contra o Borussia Dortmund, Eduardo Camavinga foi convocado pela França para a Eurocopa. Nascido em Angola, em um campo de refugiados, o ainda garoto enfrentou tensões na infância e se mudou para a França aos dois anos.
Filho de pais congoloses que imigraram em razão dos intensos conflitos no local (à época República do Zaire) na segunda metade do século XX, o volante falou ao The Guardian, da Inglaterra, sobre suas lembranças dos tempos de criança. “Ainda não tinha dois anos quando fomos para França. As coisas eram difíceis em Angola. A minha família foi para França para ter uma vida melhor. Havia muitas guerras, era a única coisa que o meu pai me dizia”, contou Camavinga.
Após superar as adversidades vividas também no país europeu, o jogador foi revelado pelo Rennes, onde atuou até ser contratado pelo Real Madrid. Em alta, desembarca na Alemanha para disputar a Euro como um dos atletas que defenderão um país diferente do que nasceu.
O levantamento feito por PLACAR constatou que contar com um naturalizado é uma realidade em 20 das 24 seleções classificadas, sendo a Albânia a que mais conta com atletas “estrangeiros”: 18 entre seus 26 convocados. Os únicos times com todos os jogadores nascidos no próprio país são Dinamarca, Áustria, Holanda e República Checa.
Razões geopolíticas
Desde os primeiros traços da expansão europeia no século XIX, com a incessante vontade de explorar novas terras e atender aos interesses econômicos de determinados Estados Nacionais, a Europa não pode ser pensada fora de uma característica recorrente: as colonizações. A prática que teve seus ápices em períodos como o das grandes navegações e o da partilha da África impôs forte influência na cultura de povos de todo o planeta – e o futebol não está fora disso.
A outra questão “além da bola” que explica os muitos naturalizados é a ebulição política europeia e estados formados tardiamente. Exemplos são as existências e as dissoluções da União Soviética e da Iugoslávia durante o século XX, além das Guerras dos Balcãs, que tiveram grande influência no que conhecemos hoje por Grécia, Turquia (com oito naturalizados na lista desta Euro) e Albânia.
Ainda há espaço para para um fenômeno inverso, em que alguns jogadores optam por defender países não-europeus baseados em suas ascendências. Entre outros, esse foi o caso dos espanhóis Brahim Díaz e Achraf Hakimi, que decidiram jogar por Marrocos, o país de suas famílias.
Estratégia de naturalização e preconceitos
Como um outro fator que transpassa fatos históricos e a formação como pessoa no local, é possível evidenciar também a política de naturalizações. Mais recentemente, a Itália, que conta com o brasileiro Jorginho e o argentino Mateo Retegui em seu elenco da Euro, passou a convocar ainda mais “oriundi”, como são chamados os atletas com ascendência italiana, um movimento que remonta aos peimeiros titulos da Azzurra na década de 1930. O movimento foi tratado pela imprensa europeia como uma forma de ampliar ainda mais o leque de possíveis atletas.
Porém, lado a lado dessa cada vez maior pluralidade nas nacionalidades, caminham dois preconceitos: o racismo e a xenofobia. E casos não faltam para evidenciar a forte incidência de ataques e injúrias a atletas por defenderem seleções que não de seu país de nascença.
Um famoso caso é o do brasileiro Ari, que foi convocado para defender a seleção russa e foi atacado com racismo por Pavel Pogrebnyak, à época também jogador de futebol. “É engraçado/ridículo ter um jogador negro na seleção russa. Eu não entendo o sentido disso. Por que deram um passaporte russo ao Ari?”, disse o ex-atleta.
O preconceito também ultrapassa as fronteiras dos naturalizados e atinge os atletas por suas ascendências. Uma denúncia que se popularizou é a de Karim Benzema, atacante francês de pais argelinos, em 2015: “Quando eu faço gols, sou francês. Quando não faço e as coisas vão mal, eu sou árabe.” Na mesma linha, Mesut Ozil, ex-meia da Alemanha de ascendência turca, também já reclamou de ofensas xenofóbicas após derrotas.
Os naturalizados de cada seleção da Euro 2024
Alemanha (1)
– Waldemar Anton, defensor nascido no Usbequistão
Escócia (6)
– Angus Gunn, goleiro nascido na Inglaterra
– Scott McTominay, meio-campista nascido na Inglaterra
– Kieran Tierney, defensor nascido na Ilha de Man
– Ché Adams, atacante nascido na Inglaterra
– Liam Cooper, defensor nascido na Inglaterra
– Tommy Conway, atacante nascido na Inglaterra
Hungria (5)
– Willi Orbán, defensor nascido na Alemanha
– Loic Négo, defensor nascido na França
– Milos Kerkez, defensor nascido na Sérvia e Montenegro, em cidade que atualmente pertence à Sérvia
– Callum Styles, meio-campista nascido na Inglaterra
– Márton Dárdai, defensor nascido na Alemanha
Suíça (4)
– Breel Embolo, atacante nascido em Camarões
– Yvon Mvogo, goleiro nascido em Camarões
– Kwadwo Duah, atacante nascido na Inglaterra
– Xherdan Shaqiri, atacante nascido na Iugoslávia, em cidade que atualmente pertence ao Kosovo
Espanha (3)
– Robin Le Normand, defensor nascido na França
– Joselu, atacante nascido na Alemanha
– Aymeric Laporte, defensor nascido na França
Croácia (8)
– Josip Stanisic, defensor nascido na Alemanha
– Marin Pongracic, defensor nascido na Alemanha
– Josip Sutalo, defensor nascido na Bósnia e Herzegovina
– Mateo Kovacic, meio-campista nascido na Áustria
– Mario Pasalic, meio-campista nascido na Alemanha
– Ante Budimir, goleiro nascido na Bósnia e Herzegovina
– Marco Pasalic, atacante nascido na Alemanha
– Luka Sucic, meio-campista nascido na Áustria
Itália (2)
– Jorginho, meio-campista nascido no Brasil
– Mateo Retegui, atacante nascido na Argentina
Albânia (18)
– Etrit Berisha, goleiro nascido no Kosovo
– Iván Balliu, defensor nascido na Espanha
– Mario Mitaj, defensor nascido na Grécia
– Arlind Ajeti, defensor nascido na Suíça
– Berat Djimsiti, defensor nascido na Suíça
– Jasir Asani, atacante nascido na Macedônia do Norte
– Nedim Bajrami, meio-campista nascido na Suíça
– Armando Broja, atacante nascido na Inglaterra
– Taulant Seferi, atacante nascido na Macedônia do Norte
– Medon Berisha, meio-campista nascido na Suíça
– Ardian Ismajli, defensor nascido no Kosovo
– Mirlind Daku, atacante nascido no Kosovo
– Ylber Ramadani, meio-campista nascido na Alemanha
– Amir Abrashi, meio-campista nascido na Suíça
– Thomas Strakosha, goleiro nascido na Grécia
– Marash Kumbulla, defensor nascido na Itália
– Naser Aliji, defensor nascido na Macedônia do Norte
– Arbër Hoxha, atacante nascido na Alemanha
Eslovênia (2)
– Sandi Lovric, meio-campista nascido na Áustria
– Josip Iličić, atacante nascido na Iugoslávia, em cidade que atualmente pertence à Bósnia e Herzegovina
Sérvia (4)
– Miloš Veljković, defensor nascido na Suíça
– Lazar Samardžić, atacante nascido na Alemanha
– Sergej Milinković-Savić, meio-campista nascido na Espanha
– Vanja Milinković-Savić, goleiro nascido na Espanha
Inglaterra (1)
– Marc Guéhi, defensor nascido na Costa do Marfim
Polônia (2)
– Taras Romanczuk, meio-campista nascido na Ucrânia
– Nicola Zalewski, meio-campista nascido na Itália
França (4)
– Brice Samba, goleiro nascido na República Democrática do Congo
– Eduardo Camavinga, meio-campista nascido em Angola
– Marcus Thuram, atacante nascido na Itália
– Mike Maignan, goleiro nascido na Guiana Francesa
Bélgica (1)
– Amadou Onana, meio-campista nascido em Senegal
Eslováquia (1)
– Vernon De Marco, defensor nascido na Argentina
Romênia (2)
– Ianis Hagi, meio-campista nascido na Turquia
– Bogdan Racovitan, defensor nascido na França
Ucrânia (2)
– Andriy Yarmolenko, atacante nascido na União Soviética, em cidade que atualmente pertence à Rússia
– Viktor Tsyhankov, meio-campista nascido em Israel
Turquia (8)
– Orkun Kokcu, meio-campista nascido na Holanda
– Cenk Tosun, atacante nascido na Alemanha
– Hakan Çalhanoglu, meio-campista nascido na Alemanha
– Salih Ozcan, meio-campista nascido na Alemanha
– Mert Muldur, defensor nascido na Áustria
– Kenan Yildiz, atacante nascido na Alemanha
– Ferdi Kadioglu, meio-campista nascido na Holanda
– Kaan Ayhan, defensor nascido na Alemanha
Georgia (2)
– Giorgi Tsitaishvili, meio-campista nascido em Israel
– Georges Mikautadze, atacante nascido na França
Portugal (4)
– Pepe, defensor nascido no Brasil
– Danilo Pereira, defensor nascido na Guiné-Bissau
– Matheus Nunes, meio-campistas nascidos no Brasil
– Diogo Costa, goleiro nascido na Suíça
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